quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O HOMEM QUE AMAVA DEUS

O homem que amava Deus

O vento soprava nas planícies próximas de Israel. O sol do meio-dia estava quente, fazendo com que o cascalho do chão, ficasse quase em brasa. Isaak tangeu suas ovelhas para o cercado, sentindo o calor às suas costas.
Quando terminou, sentou-se à sombra de uma figueira, recostou-se no tronco firme. Pegou uma moringa e tomou um pouco de água. Sentia-se satisfeito, pois tinha um rebanho grande, a propriedade crescendo dia a dia. Em sua casa, Sara sua esposa cuidava de tudo, principalmente dos quatro filhos: Betânia, Ninívea, Solon e Raguel. Três mulheres e um homem, que logo estaria cuidando do rebanho com ele, aprendendo a cuidar de seus negócios.
Isaak era, em seu modo de ver, temente à Deus, fazia seus sacrifícios no período certo, dava esmola aos pobres. Pelo temor à palavra de Moisés, guardava o sábado. Assim estava escrito na lei.
Foi quando, vindo de nenhum lugar e ao mesmo tempo de todos os lugares, uma voz forte como o ressoar do trovão, disse:
- Isaak, levanta-te, sou Eu, o seu Deus.
E assim fez Isaak, olhando espantado para os lados. Sua mão direita empunhando firmemente o cajado.
- Senhor?
- Sim meu filho, este sou Eu. O que é o Primeiro e o Último, que veio antes de todas as coisas.
Isaak, compreendendo o glorioso momento de sua vida, ajoelhou-se. Sua fronte quase tocando o solo. O cajado ao seu lado. Não ousava volver sua face ao Criador, não se achava digno.
- Meu filho, Eu tenho para ti, duas sentenças que ocorrerão em breve. Escute-as, pois se cumprirão conforme a Minha Vontade. A primeira: ao começar deste ano, e ao cabo dele todo, eu tomarei um filho teu e uma quarta parte de seu rebanho, começando por tua filha mais velha até sua mais nova e até consumir todas as tuas ovelhas.
- Meu Senhor, até Solon, meu filho? perguntou Isaak, a face ainda voltada para a terra.
- Sim, todos virão à Minha Casa. Eis a segunda sentença: tu se desfarás de tuas coisas, dá-las-à aos pobres, e irás com Sara para um lugar no deserto onde te indicarei, e lá edificarás uma casa para ti. Leva na viagem algumas sementes, água para ti e Sara e uma peça de metal.
- Eu farei meu Senhor, por amor à Ti.
Logo depois, tudo silenciou, o vento que havia parado de soprar, voltou à soprar. Isaak levantou-se, olhou para o rebanho à sua frente. Seguiu rumo à sua casa, o coração entre angustiado e feliz. O Senhor Teu Deus, lhe escolhera para algo que sabia bom, pois o amor de Deus, sua obra, é mais do que qualquer ouro, rebanho ou riquezas terrenas. Mas a dor de um pai, que tem amor aos seus filhos também é forte.
Naquela noite, o Anjo da Morte passou pela casa de Isaak e levou Betânia, bem como a quarta parte de seu rebanho. Isaak, que preferira não falar nada, naquele momento sobre as sentenças de Deus, chorou ao lado do cadáver da filha. Mesmo após os serviços fúnebres, nada falou. Em seu coração, sabia que a vontade do Pai, tinha razão de ser.
Em um período curto, um ano, Isaak perdeu os outros filhos, e seu rebanho, que fora um dos mais eminentes. Quando Raguel, sua filha mais nova se foi, bem como a última parte de seu rebanho, sabia que era a hora de cumprir a segunda sentença de Deus. Após o término dos serviços fúnebres de Raguel, virou-se para Sara, sua esposa e disse:
- Sara, separe tudo o que temos. Deus nos disse para dar tudo aos pobres e irmos embora daqui. Separa só algumas sementes, uma peça de metal e um pouco de água para nós.
Sara olhou assustada para o marido.
- Mas meu esposo, acabamos de enterrar nossa última filha. Por que Deus ia querer tal coisa, se ainda estamos de luto?
- Mulher, não se discute a vontade do Pai. Deus tem Sua Lei, tem Seu Propósito. Cumpramos imediatamente, vai e faz o que te falei.
Mesmo com o coração cheio de dor pela perda tão recente, Sara cumpriu a vontade de Deus. Separou todas as suas coisas, e logo após, deu-as aos pobres. Isaak pegou Sara e apenas com a roupa do corpo, as sementes, a peça de metal e uma moringa de água, seguiram para o deserto como havia ordenado Deus. Caminharam por quase dez dias, quando Deus soprou para Isaak:
- É aqui, eis o lugar onde te estabelecerás.
E assim Isaak e Sara encontraram um lugar à beira do leito seco de um rio. Construíram com as próprias mãos uma pequena casa. Neste lugar, Isaak e Sara sobreviviam arduamente, pois tanto água quanto provisões de quase toda espécie eram muito difíceis. Um dia, enquanto Isaak estava preparando para acender o fogo, Deus lhe disse:
- Isaak, faça para mim dois cajados de um metro e meio cada um, os quais serão feitos da madeira que eu te indicar. Na ponta de cada um deles, faça uma estrela de metal, com a peça de metal que eu mandei você trazer.
Obediente, Isaak fez o que Deus lhe ordenou. Fez dois cajados de um metro e meio, e com uma fogueira bem forte, derreteu a peça de metal, a qual foi suficiente para fazer duas estrelas, ficando cada uma, incrustada na ponta de cada cajado. Ao término do serviço o Senhor disse:
- Agora faça como te ordeno: o primeiro cajado deve ser fincado no meio do leito seco do rio diante de sua casa, o segundo deverá ser fincando no alto da colina no fim do vale, onde eu irei te indicar. Mas vá rápido, é necessário que se faça isso até o entardecer do terceiro dia depois de hoje.
- Devo levar Sara comigo Senhor?
- Não. À ela cabe plantar as sementes que te mandei trazer. Manda que ela as plante no solo sem falta. Seja diligente, há urgência nestas tarefas.
Isaak rapidamente tratou de fincar o primeiro cajado no meio do leito seco do rio. Após avisou a Sara que ia partir, que ela plantasse as sementes.
- Mas meu marido, por quê? Não há água suficiente para irrigá-las. E porque não posso ir contigo?
- Mulher, não discuta a vontade de Deus. Vai, cumpre o que foi ordenado. Eu tenho que cumprir minha parte.
Assim dizendo, Isaak deixou Sara cumprindo o que lhe fora ordenado. Seguiu por um dia inteiro até o cume da colina. Lá chegando, constatou que o leito seco do rio também acompanhou o mesmo trajeto. Deus neste momento falou:
- Isaak, crava o cajado no início do leito. Lá veras uma flor amarela. É neste lugar que deverás cravar o cajado.
Diligentemente, Isaak foi até o ponto onde seria a nascente daquele leito. Lá encontrou a flor amarela, e lá cravou o cajado. Deus novamente falou:
- Vai, volta para tua casa. Não pare, deves andar até chegar a sua casa.
Isaak quase correu, sabia que não podia parar. Seus pés pareciam ter asas. Quando chegou em casa, mais outro dia havia se passado. Sara aguardava-o à porta.
- Meu marido, tenho medo. Ontem vi cavaleiros rondando ao longe. Parecem persas, ou outra nação. Eles estavam longe, do outro lado do rio, mas creio que vão voltar. Eu não sei.
- Não temas esposa, o Senhor nos protegerá. Agora, me traga um pouco d´água, tenho sede.
Sara trouxe a moringa para o marido. Isaak bebeu sofregadamente. Quando entregou o vasilhame para a esposa, ouviu o som de cavalos correndo. Virou-se e viu no horizonte a nuvem de poeira. Sabia que eram os cavaleiros persas que Sara havia visto. Sara veio ao seu encontro.
- Você os viu?
- Sim. Agora, só podemos orar.
Ficaram em silêncio enquanto os cavaleiros se aproximavam. No céu, pesadas nuvens de chuva se formavam à uma velocidade espantosa. Os cavaleiros pararam à margem do rio seco. O que parecia ser o líder, disse brandindo sua cimitarra:
- Entrega tua casa e tua esposa para nós. Entrega-nos.
Isaak fechou a porta, jamais permitiria isso.
Os cavaleiros começaram a atravessar o leito. Foi quando pesados trovões ecoaram no céu. Um raio atingiu o cajado deixado por Isaak no cume da colina, o qual gerou uma enorme explosão. Da terra, começou a brotar água, pura e cristalina que seguiu o curso do rio. Os cavaleiros que haviam visto o raio ficaram parados onde estavam, enquanto uma onda de água os atingiu. Em poucos segundos, a maioria foi arrastada pela correnteza. O único que ficou, porque se agarrou à margem, foi o que liderava o grupo. Ele tornou á gritar ainda dentro da água:
- Eu tomarei tua casa e tua mulher seu infame.
Neste momento, outro raio caiu do céu, atingindo o segundo cajado que estava submerso dentro da água. O cavaleiro que havia sobrevivido à onda d´água, caiu morto dentro do rio, levando consigo os restos do cajado. Naquele mesmo instante começou à chover. Isaak ajoelhou-se e agradeceu à Deus pela vitória sobre os ladrões, pela água que era abundante e pelas sementes que agora iriam germinar e frutificar. Sara também agradeceu.
As terras passaram à ser as mais férteis em pouco tempo. Haviam peixes, e os frutos que vieram das sementes. Isaak, com a bênção de Deus, teve com Sara mais nove filhos.
Eis o que resultou para Isaak o amor incondicional a Deus.

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