quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ENCANAMENTO

ENCANAMENTO


Se tem uma porcaria que enche bem o saco, é esse negócio de vazamento. Você pensa que não é nada, mas quando vê a conta de água subir quase pra lua, aí você se dá conta de que pequenas chateações podem virar grandes chateações em pouco tempo. Descobri o quanto isso é chato na primeira. Bastou levar o encanador em casa, ele teve que quebrar em três locais. Tá uma zona daquelas. Fala sério, ninguém merece.
E o que é pior, se não for feito na hora, pode resultar em um afundamento no piso e pode prejudicar toda a estrutura da casa.
Sacanagem.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

CONCURSO PÚBLICO


Estava quente, abafado, como se fosse um forno microondas. Ele estava olhando para o relógio, dentro de meia hora, os portões iriam abrir. Ao seu lado, várias outras pessoas. Todos jogando suas esperanças neste concurso. Era a chance de uma vida estável, de um salário fixo, alguns benefícios, garantir a vida. Igual a ele.
Formara-se em letras há mais ou menos um ano, precisava de um fixo, precisava sobreviver. O casamento estava chegando, a noiva queria casar no próximo ano.
Estudou tanto, era hora de começar a ganhar. Mas a concorrência é sempre tão grande, tão desesperadora. Bom, agora estava ali, não ia voltar atrás.
Um funcionário apareceu, abriu o portão. Entraram, era hora de começar. Fosse o que Deus quisesse.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

NA VIDA NÃO SE DESISTE, SE LUTA

NA VIDA NÃO SE DESISTE, SE LUTA


Quando entrou no carro e deu a partida, não pensou em nada mais. Estava indo para casa. Depois de trabalhar e morar fora uns seis meses, não tinha mais ânimo de continuar ali. A distância da família era enorme, o salário, que no início começou promissor, e depois, à medida que descobriu que não era nada daquilo (a firma fazia enormes descontos em folha, muitos injustificados), foram minguando os interesses. Descobriu também, que o custo de vida no local era muito grande, e o dinheiro acabava mais rápido do que podia supor.
O carro passou pela estrada, por onde ele viera seis meses antes, com esperanças e sonhos na bagagem. Os outros colegas não falaram nada contra sua decisão. Sabiam que o que ele estava fazendo era o mais certo, muitos tinham a mesma vontade.
Bom, muitas vezes, não dá certo mesmo. Você tem que aceitar a derrota, levantar, sacudir a poeira e continuar o seu caminho. Pois o ser humano, é não desistir, é lutar contra as adversidades. Não deu, ele sabia mesmo que a vida lhe proporcionaria outra oportunidade.

sábado, 26 de novembro de 2011

NOTAS DE UM MUNDO DA PÁ VIRADA

NOTAS DE UM MUNDO DA PÁ VIRADA


1. Esposa mata marido. Motivo da morte: o marido pulava cerca com o cachorro (comumente chamada zoofagia). Quando indagada sobre o motivo do crime a esposa respondeu: "Eu tinha que gastar horrores com a pet shop da minha cadela, manicure aparo dos pelos e tudo mais, para depois o filho-da-puta ficar se divertido às minhas custas? Eu não sustento vagabundo não".

2. Cem pessoas passam mau com um bolo em festa de aniversário. Posteriormente, descobriram que o bolo levou na receita purgante. Descobriram que foi vingança da confeiteira, pois os donos da festa lhe deram um calote de uma outra festa. Isto é que se chama cagar com tudo.

3. Buraco na rua provoca acidente sério. Um rapaz vinha de bicicleta quando perdeu o equilíbrio e caiu no meio da rua. Um funcionário da Prefeitura, quando indagado sobre o incidente simplesmente respondeu: " Engraçado que o buraco está ali, todo mundo está vendo, ele fica quietinho no canto dele. Agora um cara cai dentro, e o coitado é quem leva a culpa?"

4. Homem entra com o carro em uma loja. Quando indagado pela polícia porque cometeu a burrada, o motorista disse que foram motivos alheios à sua vontade. Investigou-se o fato e o que se apurou depois, foi que "os motivos alheios" nada mais eram que uma dona de corpo escultural que tirou a atenção do infeliz motorista. Agora vai o cara explicar pra esposa.

5. Político em entrevista na tv, sobre sair ou não sair por causa de uma série de escândalos de :corrupção em sua pasta: "Não tenho apego nenhum ao poder, se tiver que sair, eu saio". Pergunta se o cara quer deixar o poder. A teta é gorda meu irmão.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

TOCAR SANFONA?????

TOCAR SANFONA????


Essa foi do meu tempo como estagiário de um escritório de advocacia. Eu e outro colega, algumas vezes, quando o movimento estava muito complicado, fazíamos o atendimento dos clientes, em causas mais comuns. Neste dia, um senhor apareceu lá no escritório, telefonamos para o advogado, ele mandou perguntar do que se tratava. O homem foi suscinto;
- Divórcio.
O advogado mandou a gente ir fazendo a entrevista. Meu colega ia fazendo as perguntas, e eu ia anotando na ficha. Nome, endereço, nome da esposa, filhos, profissão, as qualificações de sempre. Quando chegou na pergunta crucial, no motivo da separação, aí é que a história ficou, digamos assim, mais enrolada. O homem olhou sem jeito para nós e disse:
- Moço, é o seguinte, eu trabalho no cabo da enxada o dia inteiro, chego em casa moído, quando eu chego perto da minha esposa, doido pra "tocar sanfona", meus filhos não deixam.
Neste ponto, eu encarei meu colega, sem entender muito bem o negócio.
- Aí, de noite, a gente liga a tv mais alto, pra não fazer muito barulho, meu sogro que mora divisa de parede com a gente, fica batendo na parede e não deixa eu tocar sanfona.
Meu pobre colega, que como eu, não tava entendendo nada, fez a pergunta mais inocente possível:
- O senhor é músico?
O homem sem jeito falou:
- Moço, o senhor não tá entendendo.
Tudo bem, explicamos os procedimentos, imprimi uma procuração, a qual ele assinou, com a declaração de pobreza, ele assinou tudo. Pedimos os documentos que ele ficou de trazer depois. Mais tarde, quando o advogado chegou, e perguntou sobre o divórcio, eu contei para ele. No final da história, o homem estava rolando de rir. Eu sem entender nada, já fui logo perguntando:
- Ô doutor, qual é a graça?
- O tocar sanfona meu filho, é ele dar uma com a esposa, o coitado não tem relações com ela faz é tempo, por isso quer se separar. RSRSRSRSRSRS.
Êta sanfona trabalhosa.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SEPARAÇÃO - Ô CASO COMPLICADO

SEPARAÇÃO, Ô CASO COMPLICADO


Um dia, estávamos eu e um colega na cantina do Fórum, conversando sobre ramos do Direito. Eu atualmente, estou trabalhando nas áreas cível, trabalhista e previdenciário, e o colega mexendo só com a área criminal. Eu me virei para ele e disse:
- Rapaz, como é que você aguenta mexer com isso? Só ver aquela bandidagem, estupradores, assassinos, ladrões, traficantes. Só o de pior da raça humana.
- Colega, você nem imagina, tem área pior que essa sim. Mexe com direito de família, principalmente com separação para você ver. Eu mesmo, mexia um pouco com isso, depois do que me aconteceu no último divórcio que eu me meti, acabou, nunca mais mexi com isso.
- O que foi que aconteceu? perguntei, enquanto os cafezinhos que pedimos, chegaram.
- Eu tinha meu escritório naquele prédio antigo, no centro da cidade, quando um rapaz entrou pelo meu escritório. Mas rapaz, o homem estava todo arrebentado, o rosto parecia que tinha sido passado no asfalto, o braço direito tava enfaixado, os olhos roxos como se tivesse levado uma cacetada. Levei até um susto, daí perguntei pra ele:
"- Pois não, em que posso ajudar?
"O rapaz sentou numa cadeira e começou a me contar o caso dele:
"- Doutor, eu quero me separar da minha mulher, a miserável fez isso comigo doutor. A mulher me arrebentou no cacete ontem, me deixou como se eu tivesse tido uma briga com o Maguila. Doutor, pelo amor de Deus, fala com ela, eu quero me separar.
"Prometi que ia dar uma olhada no caso dele. Liguei para a mulher, quando falei que era o advogado do marido dela, e que ele queria comentar sobre o divórcio, a mulher começou a xingar tanto palavrão pelo telefone, que eu tive que afastar o bicho pra poder ouvir numa boa. Ela se acalmou, e veio no escritório, mas foi só ver o coitado do homem, que veio pra cima dele, rapaz a mulher foi descendo o braço nele, e o coitado só tentava proteger o corpo. Quando consegui acalmar ela, fazer os dois assinarem as procurações, fazer um acordo equitativo, levei os dois no Fórum. Naquele tempo, não tinha esse negócio de divórcio extrajudicial, tinha que ser pelo juiz, de qualquer jeito. O cartório já levou o pedido assinado pelos dois, pra que o juiz fosse analisar. Tudo bem, chamou os dois. Quando perguntou pro rapaz, ele falou que queria mesmo. Agora, quando foi entrevistar ela, o miserável caiu na besteira de perguntar:
"- Mas a senhora tem certeza que quer se separar? Eu não estou sentindo firmeza nesta sua afirmação.
"Pronto, a mulher começou a chorar, lavou a mesa do juiz. Eu fui saindo de fininho por um lado, e o cliente por outro. Sei que no fim das contas, o juiz mandou vir de novo, aí ela confirmou. Mas rapaz, nunca mais mexo com separação".
Tomamos o café, enquanto eu ria da história. Logo o colega bateu no meu braço, e foi dizendo:
- Deixa eu ir, que eu tenho que cuidar dos meus bandidos.
Nos despedimos e ele foi para a sala de audiências da vara criminal.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CASAMENTO À MODA DO SÍTIO

CASAMENTO À MODA DO SÍTIO


Essa, meu avô contou para mim há muitos anos,  e eu nunca esqueci. Quem nasceu no interior de Minas Gerais, Bahia, e demais estados do norte e do nordeste, já deve entender do que eu estou falando. No interior, o casamento é bem mais engraçado.
Bem, era o casamento de um rapaz chamado Epaminondas (nome inventado), se enamorou de uma moça chamada Isoldina. Tudo certo, namoro depois de quatro anos, noivado durando dois. Marcaram a data de casamento. Foi chamado o melhor sanfoneiro da região, mataram um boi, um leitão, comida que dava para alimentar umas cem pessoas durante dois ou três dias. Após a cerimônia de casamento, foram os dois para a fazenda do pai da noiva, coronel Altamirando. Foram os dois num carro de boi enfeitado, a procissão de convidados. A festa começou cedo, o sanfoneiro mandou um forró de primeira na sanfona, a comida farta servida. Foi quando a esposa de coronel Altamirando foi falar com o marido:
- Altamirando, estamos com um problema. Sumiram com a colher para servir o arroz.
- E isso é problema mulher? Manda a Inocência servir com a mão mesmo. Oxe.
A mulher deu de ombros. Chamou a cozinheira, e mandou servir na mão. A tarefa de servir o arroz ficou à cargo de Coriolano, o faz-tudo da fazenda. Coriolano metia a mãozorra no panelação de arroz e ia servindo o povo. E entre um prato e outro de arroz, ainda apertava a mão de algum conhecido.
Assim era um casamento no interior da Bahia. E antes que os mais frescos digam que é nojento, naquele tempo o povo fazia isso e não morreu ninguém rssrs.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O CARRO DE BOI

O CARRO DE BOI


- Ô que saco - vociferou o pai.
- Calma amor, calma. Não adianta nada ficar com raiva agora. Calma que vai dar tudo certo - respondeu a esposa, sua mãe, ao lado dele.
O garoto ficou olhando para ambos, ao seu lado, seus avós. Tinham ido para a festa de casamento de uma prima de sua mulher. Estavam numa estrada de terra, no interior da Bahia. A estrada ficou inundada por causa das chuvas que haviam caído naquele período. O carro, que não tinha tração nas quatro rodas, ficou atolado no meio do caminho.
- Não adianta Paulo, espera, amanhã cedo, a gente vai na fazenda do Miroslau, lá a gente arranja um jeito de vir rebocar o carro - sugeriu o avô, seu sogro.
E assim foi, todo mundo se ajeitou no carro da melhor forma que pode. No outro dia, cedo, o pai e o avô foram à pé até a fazenda dos parentes que estava perto. Uma hora depois, voltaram em cima de um carro de boi, que o primo vinha pilotando. Enganchou o carro, ele veio para cima do carro de boi, no colo da avó. Atravessaram o alagamento, até a fazenda dos primos. Naquele curto trajeto, ele ficou encantado com o andar do carro de boi, com o som gostoso daquelas rodas, vencendo o chão de terra arenoso.
O casamento foi uma festa, como só os casamentos no norte e nordeste são. Voltaram para casa, mas ele nunca esqueceu o som daquele carro de boi.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CAFÉ DA MANHÃ

CAFÉ DA MANHÃ


Sentou-se á mesa, diante dele a xícara de café fumegante de todos os dias. Não conseguia começar o dia se tomar seu cafezinho. Era uma manhã de sábado, não tinha que ir para a repartição, a esposa estava visitando a irmã doente, e os filhos não moravam mais com eles. Era engraçado como a vida correu tão rápido naqueles trinta e tantos anos de casamento. O casamento, o emprego na repartição, a gravidez da esposa, o nascimento dos dois filhos. Os primeiros passos deles, as primeiras palavras. As primeiras notas do colégio, as reuniões, as broncas pelas traquinagens.
Diante daquela xícara de café, ele relembrou todos os momentos dos últimos anos: o falecimento dos pais, primeiro o pai, depois a mãe, o falecimento dos sogros. As noites de tristeza, por sua própria dor, a dor de sua esposa. Agora, os filhos crescidos, a mulher fora de casa, um silêncio quase agoniante.
Pegou a xícara, sorveu o café fumegante, num sôssego que fazia tempo, não lhe acometia há muitos anos. Repassando os acontecimentos, enquanto tomava o café, percebeu sua vida fora intensa, e que ainda tinha muito para contribuir. logo, teriam os netos, e ele queria curtir cada um dos momentos deles.

sábado, 19 de novembro de 2011

COISAS BOAS DA VIDA

COISAS BOAS DA VIDA


Enquanto eu pensava num assunto legal pra falar hoje, me veio à cabeça, depois de dar um beijo na minha esposa, um bem gostoso: as coisas boas da vida. Às vezes, a gente não dá valor no que está tão perto, tão bom para nós, e quando isso vai embora, a gente acaba percebendo o valor que ela tem.
Quando você acordar bem cedo, dá um beijo de bom dia na sua amada, dê um beijo e um abraço na sua filha. O sorriso dela, sua filha, não tem valor, não tem como você deixar de lado. A verdade é que são coisas que o dinheiro não pode comprar, embora ele seja importante para pagar as contas no fim do mês.
Não tem nada como você olhar sua filha tomando café da manhã, e de repente ela dispara aquele sorriso maroto, que faz você derreter, ou assistir um filme no DVD bem abraçado com sua esposa, enquanto ela coloca a cabeça dela no seu peito. Você se embevece, se torna mais feliz, capaz de enfrentar qualquer coisa que possa acontecer no dia. Mesmo nos momentos mais tristes.
Sei que o que eu estou falando parece uma lição de almanaque de farmácia, mas tem suas razões, tem suas lógicas. Aproveite, viva o dia. Seja feliz com as bênçãos de Deus.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CAMINHOS PASSADOS

CAMINHOS PASSADOS


Cruzou o portão de entrada, os passos hesitantes, o coração palpitando nervoso. Fazia tanto tempo que não vinha ali, que não respirava aquele ar. Coisas que o tempo não apaga. 
A casa estava deserta, ninguém morava mais lá há muitos anos. Mas ia mudar, ia voltar para casa. De onde nunca devia ter saído. Pequeno, seu pai em busca de melhores oportunidades, pegou a família e foi para o sul. Lá, ganhou dinheiro, mas não foi tão feliz à exceção de alguns momentos de sua vida (casamento, nascimento da filha). Mas nada tão gostoso quanto ficar na roda de familiares, com os biscoitos saindo do forno à lenha que sua avó tirava do forno à lenha. Nada tão gostoso quanto pular do pé de caja no quintal, aterrisando no estrado de uma cama que seu avô colocava no quintal à sombra da árvore. Nada no sul era tão gostoso quanto o São João, com as fogueiras na porta das casas, a conversava animada rolando solta.
Caminhou pela casa, foi até o quintal do fundo, onde seu avô havia feito uma pequena varanda, com a cozinha que a avó utilizava preparando uma culinária de dar água na boca de qualquer um. Num canto do quintal, onde o terreno já não mostrava mais nenhum sinal, outrora havia um velho poço, soterrado quando ligaram a água encanada na casa. As bananeiras ao fundo, agora apenas tocos podres, de onde outrora vicejavam cachos maduros.
Sentiu a mão da esposa em seu ombro, virou-se. Ela lhe sorria.
- Feliz agora?
- Sim, de volta pra casa, graças à Deus.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O HOMEM QUE AMAVA DEUS

O homem que amava Deus

O vento soprava nas planícies próximas de Israel. O sol do meio-dia estava quente, fazendo com que o cascalho do chão, ficasse quase em brasa. Isaak tangeu suas ovelhas para o cercado, sentindo o calor às suas costas.
Quando terminou, sentou-se à sombra de uma figueira, recostou-se no tronco firme. Pegou uma moringa e tomou um pouco de água. Sentia-se satisfeito, pois tinha um rebanho grande, a propriedade crescendo dia a dia. Em sua casa, Sara sua esposa cuidava de tudo, principalmente dos quatro filhos: Betânia, Ninívea, Solon e Raguel. Três mulheres e um homem, que logo estaria cuidando do rebanho com ele, aprendendo a cuidar de seus negócios.
Isaak era, em seu modo de ver, temente à Deus, fazia seus sacrifícios no período certo, dava esmola aos pobres. Pelo temor à palavra de Moisés, guardava o sábado. Assim estava escrito na lei.
Foi quando, vindo de nenhum lugar e ao mesmo tempo de todos os lugares, uma voz forte como o ressoar do trovão, disse:
- Isaak, levanta-te, sou Eu, o seu Deus.
E assim fez Isaak, olhando espantado para os lados. Sua mão direita empunhando firmemente o cajado.
- Senhor?
- Sim meu filho, este sou Eu. O que é o Primeiro e o Último, que veio antes de todas as coisas.
Isaak, compreendendo o glorioso momento de sua vida, ajoelhou-se. Sua fronte quase tocando o solo. O cajado ao seu lado. Não ousava volver sua face ao Criador, não se achava digno.
- Meu filho, Eu tenho para ti, duas sentenças que ocorrerão em breve. Escute-as, pois se cumprirão conforme a Minha Vontade. A primeira: ao começar deste ano, e ao cabo dele todo, eu tomarei um filho teu e uma quarta parte de seu rebanho, começando por tua filha mais velha até sua mais nova e até consumir todas as tuas ovelhas.
- Meu Senhor, até Solon, meu filho? perguntou Isaak, a face ainda voltada para a terra.
- Sim, todos virão à Minha Casa. Eis a segunda sentença: tu se desfarás de tuas coisas, dá-las-à aos pobres, e irás com Sara para um lugar no deserto onde te indicarei, e lá edificarás uma casa para ti. Leva na viagem algumas sementes, água para ti e Sara e uma peça de metal.
- Eu farei meu Senhor, por amor à Ti.
Logo depois, tudo silenciou, o vento que havia parado de soprar, voltou à soprar. Isaak levantou-se, olhou para o rebanho à sua frente. Seguiu rumo à sua casa, o coração entre angustiado e feliz. O Senhor Teu Deus, lhe escolhera para algo que sabia bom, pois o amor de Deus, sua obra, é mais do que qualquer ouro, rebanho ou riquezas terrenas. Mas a dor de um pai, que tem amor aos seus filhos também é forte.
Naquela noite, o Anjo da Morte passou pela casa de Isaak e levou Betânia, bem como a quarta parte de seu rebanho. Isaak, que preferira não falar nada, naquele momento sobre as sentenças de Deus, chorou ao lado do cadáver da filha. Mesmo após os serviços fúnebres, nada falou. Em seu coração, sabia que a vontade do Pai, tinha razão de ser.
Em um período curto, um ano, Isaak perdeu os outros filhos, e seu rebanho, que fora um dos mais eminentes. Quando Raguel, sua filha mais nova se foi, bem como a última parte de seu rebanho, sabia que era a hora de cumprir a segunda sentença de Deus. Após o término dos serviços fúnebres de Raguel, virou-se para Sara, sua esposa e disse:
- Sara, separe tudo o que temos. Deus nos disse para dar tudo aos pobres e irmos embora daqui. Separa só algumas sementes, uma peça de metal e um pouco de água para nós.
Sara olhou assustada para o marido.
- Mas meu esposo, acabamos de enterrar nossa última filha. Por que Deus ia querer tal coisa, se ainda estamos de luto?
- Mulher, não se discute a vontade do Pai. Deus tem Sua Lei, tem Seu Propósito. Cumpramos imediatamente, vai e faz o que te falei.
Mesmo com o coração cheio de dor pela perda tão recente, Sara cumpriu a vontade de Deus. Separou todas as suas coisas, e logo após, deu-as aos pobres. Isaak pegou Sara e apenas com a roupa do corpo, as sementes, a peça de metal e uma moringa de água, seguiram para o deserto como havia ordenado Deus. Caminharam por quase dez dias, quando Deus soprou para Isaak:
- É aqui, eis o lugar onde te estabelecerás.
E assim Isaak e Sara encontraram um lugar à beira do leito seco de um rio. Construíram com as próprias mãos uma pequena casa. Neste lugar, Isaak e Sara sobreviviam arduamente, pois tanto água quanto provisões de quase toda espécie eram muito difíceis. Um dia, enquanto Isaak estava preparando para acender o fogo, Deus lhe disse:
- Isaak, faça para mim dois cajados de um metro e meio cada um, os quais serão feitos da madeira que eu te indicar. Na ponta de cada um deles, faça uma estrela de metal, com a peça de metal que eu mandei você trazer.
Obediente, Isaak fez o que Deus lhe ordenou. Fez dois cajados de um metro e meio, e com uma fogueira bem forte, derreteu a peça de metal, a qual foi suficiente para fazer duas estrelas, ficando cada uma, incrustada na ponta de cada cajado. Ao término do serviço o Senhor disse:
- Agora faça como te ordeno: o primeiro cajado deve ser fincado no meio do leito seco do rio diante de sua casa, o segundo deverá ser fincando no alto da colina no fim do vale, onde eu irei te indicar. Mas vá rápido, é necessário que se faça isso até o entardecer do terceiro dia depois de hoje.
- Devo levar Sara comigo Senhor?
- Não. À ela cabe plantar as sementes que te mandei trazer. Manda que ela as plante no solo sem falta. Seja diligente, há urgência nestas tarefas.
Isaak rapidamente tratou de fincar o primeiro cajado no meio do leito seco do rio. Após avisou a Sara que ia partir, que ela plantasse as sementes.
- Mas meu marido, por quê? Não há água suficiente para irrigá-las. E porque não posso ir contigo?
- Mulher, não discuta a vontade de Deus. Vai, cumpre o que foi ordenado. Eu tenho que cumprir minha parte.
Assim dizendo, Isaak deixou Sara cumprindo o que lhe fora ordenado. Seguiu por um dia inteiro até o cume da colina. Lá chegando, constatou que o leito seco do rio também acompanhou o mesmo trajeto. Deus neste momento falou:
- Isaak, crava o cajado no início do leito. Lá veras uma flor amarela. É neste lugar que deverás cravar o cajado.
Diligentemente, Isaak foi até o ponto onde seria a nascente daquele leito. Lá encontrou a flor amarela, e lá cravou o cajado. Deus novamente falou:
- Vai, volta para tua casa. Não pare, deves andar até chegar a sua casa.
Isaak quase correu, sabia que não podia parar. Seus pés pareciam ter asas. Quando chegou em casa, mais outro dia havia se passado. Sara aguardava-o à porta.
- Meu marido, tenho medo. Ontem vi cavaleiros rondando ao longe. Parecem persas, ou outra nação. Eles estavam longe, do outro lado do rio, mas creio que vão voltar. Eu não sei.
- Não temas esposa, o Senhor nos protegerá. Agora, me traga um pouco d´água, tenho sede.
Sara trouxe a moringa para o marido. Isaak bebeu sofregadamente. Quando entregou o vasilhame para a esposa, ouviu o som de cavalos correndo. Virou-se e viu no horizonte a nuvem de poeira. Sabia que eram os cavaleiros persas que Sara havia visto. Sara veio ao seu encontro.
- Você os viu?
- Sim. Agora, só podemos orar.
Ficaram em silêncio enquanto os cavaleiros se aproximavam. No céu, pesadas nuvens de chuva se formavam à uma velocidade espantosa. Os cavaleiros pararam à margem do rio seco. O que parecia ser o líder, disse brandindo sua cimitarra:
- Entrega tua casa e tua esposa para nós. Entrega-nos.
Isaak fechou a porta, jamais permitiria isso.
Os cavaleiros começaram a atravessar o leito. Foi quando pesados trovões ecoaram no céu. Um raio atingiu o cajado deixado por Isaak no cume da colina, o qual gerou uma enorme explosão. Da terra, começou a brotar água, pura e cristalina que seguiu o curso do rio. Os cavaleiros que haviam visto o raio ficaram parados onde estavam, enquanto uma onda de água os atingiu. Em poucos segundos, a maioria foi arrastada pela correnteza. O único que ficou, porque se agarrou à margem, foi o que liderava o grupo. Ele tornou á gritar ainda dentro da água:
- Eu tomarei tua casa e tua mulher seu infame.
Neste momento, outro raio caiu do céu, atingindo o segundo cajado que estava submerso dentro da água. O cavaleiro que havia sobrevivido à onda d´água, caiu morto dentro do rio, levando consigo os restos do cajado. Naquele mesmo instante começou à chover. Isaak ajoelhou-se e agradeceu à Deus pela vitória sobre os ladrões, pela água que era abundante e pelas sementes que agora iriam germinar e frutificar. Sara também agradeceu.
As terras passaram à ser as mais férteis em pouco tempo. Haviam peixes, e os frutos que vieram das sementes. Isaak, com a bênção de Deus, teve com Sara mais nove filhos.
Eis o que resultou para Isaak o amor incondicional a Deus.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

QUANDO O SOL BRILHA

QUANDO O SOL BRILHA


Ao acordar de manhã todos os dias, e você consegue ver o sol brilhar no céu, com seus raios atravessando as frestas da janela, é sinal que vai ser um dia novo, cheio de possibilidades. A verdade é que eu não poderia dizer nunca, que será só bom, que não haverão percalços na vida, isso seria impossível, porque a verdade é que faz parte do ser humano, enfrentar suas adversidades, suas dificuldades. Isso é do ser humano, o que o distingue dos demais animais. E nestas adversidades, encontrar um motivo para se erguer, olhar para o céu, ver o astro rei e dizer: eu amo estar vivo.
Acredito que quando Deus criou o Sol, no livro de Gênesis, a idéia segundo meu humilde raciocínio, é de que ele queria mostrar ao homem, que não há problemas maiores que um pouco de luz, um pouco de força, alegria de viver, e uma punjança característica das pessoas, possa superar. Mesmo quando vem a tempestade, mesmo quando desaba um tempo ruim pra cacete, você pode ver que a luz do sol ajuda a ver tudo com uma clareza melhor, ajuda a ver que apesar dos problemas, podemos ficar contente por estarmos vivos.
Quando eu ando pelas ruas, não há beleza que me escape ao olhar: as crianças brincando, as pessoas apressadas com seus afazeres. Esse movimentar, esplanado pela luz radiante, denota que a humanidade caminha, a vida é ritmo, é pulso, é intensidade.
Ao olhar o sol, pense nas coisas que lhe acontecem, boas e ruins, e procure observar que todas elas, guardam alguma coisa da qual você precisa tirar uma lição. Veja tudo sob uma nova ótica, principalmente à luz do sol. Tudo é melhor, ou pelo menos, um pouco menos complicado à luz do dia.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

QUANDO FECHO MEUS OLHOS

QUANDO FECHO MEUS OLHOS


Quando fecho meus olhos, sinto o colchão de estopa onde eu dormia com meus avós, na minha mais tenra infância, quando meus pais trabalhavam até tarde e precisavam que eles cuidassem de mim. E quando de manhã, acordava, já direto ia tomar um café da manhã ao estilo de Minas Gerais, com direito até a ximango (uma espécie de pão de queijo com massa), saído quentinho do forno, com uma xícara de café fumegante.
Quando eu fecho meus olhos, ainda lembro da caminhada longa que eu, meus pais e minha irmã, fazíamos quando íamos na casa dos meus avós. A caminhada longa no meio do cerrado, o calor do sol de Minas, um chão branco de uma terra forte, de um cheiro de flores do cerrado. A caminhada alegre, em meio ao bairro de outrora, de minha infância, os rostos conhecidos, os olhos gentis, o sorriso fácil, muitas vezes em bocas sem dentes. Os bolsos muitas vezes vazios, mas o coração cheio de amor e carinho.
Quando fecho meus olhos, lembro das festas, reuniões de família, almoços de domingo, a mesa farta, galinha caipira, farofa, feijão tropeiro, torresmo bem fritinho. Os risos, os abraços, às vezes uma ou outra discussão, que terminava logo. A felicidade de um lar cheio, feliz e alegre.
Quando fecho meus olhos, ainda lembro das viagens, dos caminhos pelas estradas de terra, casas distantes de parentes, mais festas, mais jogos de truco na madrugada. A vida era tão boa, tão simples.
Quando fecho meus olhos, ainda sinto o abraço do meu pai, da minha mãe, me afagando os cabelos na hora de dormir, na hora de acordar, os beijos da avó, do avô que infelizmente não mais está aqui. Minha família que eu amo.
Quando fecho meus olhos, ouço o sim que minha esposa falou no altar, o choro de minha filha ao nascer. Ainda vale a pena viver.