quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A BEBERAGEM

Para os não acostumados com o temo, beberagem é uma mistura, tipo um remédio feito à base de ervas naturais que curam segundo os antigos, qualquer tipo de doença, ou tenham outras finalidades menos nobres como o aborto, ou mesmo auxiliam em vários tipos de problemas como impotência. É neste último aspecto que nós vamos contar uma história interessante no interior de Rondônia.
Isso aconteceu em Jaru, nos idos de 2000, quando dois amigos, Rolando e Clemêncio, foram numa feira destas populares, onde se compra de tudo, galinha, carne, queijo caseiro, e principalmente remédios naturais. Rolando e Clemêncio, eram sócios numa firma de importação de polpa de frutas, comercializavam a polpa de frutas como açaí, pupuaçu, entre outras. Vieram do Paraná, onde deixaram as esposas e os filhos, aguardando, enquanto encontravam casa e escola. Até aquele momento, ambos estavam morando num hotel no centro de Jarú, cada qual ocupando um apartamento e a solidão de ficarem por ali sozinhos. Pois bem, Rolando havia ouvido falar que na feira de Jaru, iria encontrar uma beberagem de ervas cuja natureza era de deixar a pessoa mais animada, sem depressão. E por isso foram lá, esperançosos de encontrar o remédio. No meio da andança, Clemêncio, em meio à confusão de barracas encontrou a dita cuja que vendia remédios feitos à base de ervas.
- É ali Rolando, é aquela ali ó - disse ele, apontando o lugar.
Foram para a barraca, onde uma índia que devia ter mais de cem anos, pitava num velho cachimbo.
- Ô minha tia, que é que tem nessa garrafa aqui? perguntou Rolando, apontando uma das várias garrafas, esta com um líquido escuro, cheio de folhas e raízes.
- Tem de tudo fio; guanina, nó de cachorro, guaraná...
- Levanta o moral da gente? perguntou Clemêncio, já segurando a garrafa nas mãos. 
- Ô, e como fio. São vinte reais.
Compraram e levaram. A garrafa ficou na geladeira do escritório. E os dois, doidos pra aliviarem a tristeza, foram bebendo o negócio. Lá pela metade do dia, quando já tinham mandado mais da metade da garrafa pra dentro, apareceu um vendedor amigo dos dois de nome Tobias. Eles estavam negociando algumas sacolas plásticas para embalar a polpa congelada, quando ele perguntou se podia tomar uma água. Rolando falou que ele podia se servir da geladeira. Quando o vendedor abriu e se deparou com a garrafa, virou-se para os dois.
- Ô gente, sem querer me meter, mas vocês tem um hárem?
- Não Tobias, tá doido? Por quê? perguntou Clemêncio, enquanto marcava o montante da encomenda.
- Cês tão tomando esse negócio aqui, né?
- Sim, a dona falou que isso levanta o moral, e a gente, com saudades da família, tava precisando - justificou-se Rolando.
- Seus doidos, isso aqui é pra homem broxa. Cês vão ficar que nem tarado na porta de puteiro.
Rolando virou-se pra Clemêncio e disse categórico:
- Fodeu.
Literalmente, por sinal. Os efeitos da beberagem se fizeram sentir naquele mesmo dia, Rolando, pra dormir, teve que tomar banho gelado, e jogar a solitária três vezes. Clemêncio disse que a dele foram quatro. Quando viram que não ia dar para aguentar mais nada, um deles, Clemêncio, falou:
- Rapaz, eu vou pro Paraná, vou ver a mulher. Vou me internar com ela num motel bicho, não tô aguentando.
- Tô contigo, vou já pra lá - concordou Rolando.
Ficaram um fim de semana. Depois que voltaram, jogaram o resto da beberagem, o negócio era perigoso.

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